segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

METAFÍSICA?


Ao poeta Sidnei Olívio


Há vazios na mais densa matéria.

            * * *

O tempo que se vê já passou.

            * * *

O fim de toda estrada
é a partida.

            * * *

O nada não é, nada,
absoluto.

            * * *

Desde o dia que nascemos
morremos mais um pouco.

            * * *

A eternidade é uma porta emperrada
que guarda o silêncio
e dá para o nada.

            * * *

A morte não é passagem:
é compostagem.

            * * *

Desde o princípio bebo manhãs porque me faltam madrugadas.

            * * *

O oco é o justo descanso
da matéria dura, densa
como se pluma de ganso
sobre a água morna, tensa.

            * * *

Mesmo na matéria quente,
densa, viva ou encorpada
há vazios persistentes
lembrando que o tudo é... nada.

            * * *

Ei, você, não se apoquente,
não se prenda ao que passou ―
o passado é o presente
que se deteriorou.

            * * *

Chegar é o sonho da estrada.
O fim-de-estrada é partida.
A vida é negar o nada.
O fim da morte é a vida.

            * * *

Viver é negar o nada
postergando a despedida.
A morte é uma curta estrada
― pausa pra novas partidas.

            * * *

Existem ocos sensíveis
no mais denso dos xilemas,
como há versos invisíveis
nos espaços dos poemas.

            * * *

Há rimas mal disfarçadas,
há luzes pouco visíveis
no escuro quadro sensível,
no puro branco do verso.

       

(janeiro de 2005)

4 comentários:

  1. Adorei esse poema, Paulinho! Que sensibilidade para falar da vida e da morte!! E que sabedoria para citar aspectos biológicos com toques de poesia. Só você mesmo para ter tanta inspiração... Abç

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    1. Grande Karina! Abração. Grato pela consideração aos meus escritos!!

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  2. Grande parceiro. Honra minha ter esses poemas dedicados. Muito obrigado e um abraço.

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    1. Grande e sábio poeta! Que bom que acolheu este trabalho. Filosofices nascidas do coração. Grande abraço!

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