sábado, 20 de junho de 2015

SANTO DE CASA...



1.                   

A gente só tem valor
Pra quem valor sabe dar.
O valor que a gente teve
Só o tempo nos dirá.
Na cidade dos pés juntos
Todo e qualquer defunto
Vira o santo do lugar.

2.                   
O sujeito passa anos
Desenvolvendo um projeto
Bom, que tem valor de fato
E totalmente correto.
Aí vem um descarado
Amigo de deputado
E lhe crava um grande veto.

Ou então contrata um grande
Nome do estado distante
Para o careiro levar
O “seu” projeto adiante...
Porque santo bom só tem
Milagres que lhe convêm:
Construir branco elefante.

3.                   
A cultura brasileira
Tão rica, bela, diversa
É lixo na mão de incultos
Dos que vivem de conversa...
Só presta o que é dos “Esteites”
Mesmo sendo puro enfeite,
Numa atitude perversa.

4.                   
Você está num paraíso
Mas não consegue enxergar.
O Paraíso é de fora
Só é bom o outro lugar.
O que temos nunca presta
Parece que a melhor festa
É do vizinho de lá.

E quem mora lá distante
Entre dádivas, sorrisos,
Olha pra cá e lamenta:
“Vivo aqui no prejuízo...
Que feliz é esse povo!
Queria nascer de novo,
Fruto desse paraíso. ”

 5.                   
Acudiram à sua porta
Gênios da literatura,
Música, dança, cinema,
Teatro, humor, pintura...
Bateram, você não abriu...
Hoje é “puta que pariu!
Que gênio, que formosura! ”

Alguém tanto precisou
Do seu afeto e atenção
Mas você não o enxergou
Não estendeu sua mão...
E vem dizer “eu sabia,
Que ele venceria um dia! ”
Ao vê-lo no panteão.

6.                   
A mulher dele é perfeita.
Tem paciência de Jó!
Transforma jiló em doce
Dá-lhe o que há de melhor.
Mesmo sem saber nadinha
De sua vida, a vizinha
Parece sempre melhor.

7.                   
O marido trabalhou
Feito um jegue nordestino
Pra sustentar a família,
Dar estudos aos meninos...
Juraram que aguentariam
Unidos, superariam
As agruras do destino.

Não enxergando o passado,
E com valores mesquinhos,
Sem reconhecer as lutas
Para construírem o ninho,
Ela diz “estou sem ar”,
Vive sempre a desejar
A condição do vizinho.

8.                   

Não acolheu o filhote...
Quando ele mais precisou,
O entregou à própria sorte.
Omisso, não o educou.
As ruas fizeram a festa,
Lhe ensinaram o que não presta
E se perdeu... desandou!

9.                   
Tudo o que seus pais sabiam,
Lhe ensinaram com vontade.
Mas desprezou seus valores
Renegou tanta bondade...
E agora vive postando
No Facebook, chorando:
“Oh meus pais... Ai que saudade...”

10.               
Esnobou a amizade
Sincera, a mais verdadeira
Se voltou ao próprio umbigo
Se enfiou na geladeira
E agora que ela está só
Até o espelho tem dó
Dessa infeliz choradeira.

11.               
Quem lhe quer tem sua ausência
Quem lhe tem, todo o ignora.
Dando pérolas aos porcos
Segue pelo mundo afora.
Quem espera algo de alguém
Não sabe o valor que tem:
Prefere levar espora.

12.               
No fim, quando a dor da ausência
De gestos, de amor, de sorte,
Do tempo e as coisas perdidas
Fizerem no peito um corte,
Saberemos o que presta!
No fim, uma verdade resta:
A verdade vem com a morte.


Paulo Robson de Souza

18.12.2014

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