sábado, 16 de setembro de 2017

DE ONDE VEM A INSPIRAÇÃO


Para Denise Campos



De onde vem a inspiração
― respondo à compositora
Do Pantanal, a cantora:
Nunca vem de supetão!
Sei que, em mim, toda canção
Vem de coisas pequeninas
Como um grilo na campina...
Ou, então, de um temporal,
Raios, aves, Pantanal
Refletidos na retina...

Às vezes, os meus destinos
São os cheiros da fazenda...
Os sabores da merenda
Dos meus tempos de menino.
Quase nunca é repentino
Meu desejo de criar:
Mesmo uma canção de ninar,
Preciso correr atrás
Da inspiração ― muito mais
Do que pode imaginar!




PRS 
27.3.2013

___________

(resposta à pergunta em versos da cantora Denise Campos, postada aqui no blog em 27 de março de 2013 - Sobre isto, clique aqui.)

terça-feira, 12 de setembro de 2017

VINHO TEM ALMA



Dizem que o vinho tem alma,
nutritiva sensação.
Bendita fermentação
que acalma, que acalma, acalma...

              * * *

Se vinho tem alma, viva!
O velho padre diria:
para sedes compulsivas
bebei almas todo dia.

(PRS - trovas de 2005)

sábado, 2 de setembro de 2017

TAO QUAL (excertos)














(CLIQUE NAS FOTOS PARA LER O POEMA COMPLETO)

#ocacuadopaulorobson
#paulorobsondesouza
#PauloRobsondeSouza
#taoismo

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

AS CANÇÕES QUE FIZEMOS PRA ELA (projeto de CD e livro)




Depois de longa temporada usando provisoriamente o nome 
"Compositores Retados" (uma brincadeira tirada do nosso grupo whatsapp), 
desde 18 de agosto último nosso grupo de composição musical passou a se chamar 
Terça das Quintas


A seguir, trechos de algumas das composições do Terça das Quintas 
que fazem parte do projeto "As canções que fizemos pra Ela" (2016), 
em comemoração ao 70o aniversário de Maria Bethânia 
(clique nos links para ouvi-las):


























Para ouvir outras clique aqui (gravações demo, feitas em estúdio caseiro):







#mariabethania 
#santoamaro
#santoamarodapurificação
#SantoAmaro




segunda-feira, 24 de julho de 2017

LILICA

Letra e música:  Paulo Robson de Souza


Chegou em casa e fez
de mim história de amor...
O seu silêncio mais
falava
no seu corpo
no pulsar
no calor...

Bastou um afago, um sim, 
um dengo, um olhar... Gemer
no descansar do som
pra sua vida,
o seu ventre oferecer
a mim.

A vida é sonho e diz
que fica o que se dá e se percebe...
Da vida, um sonho diz
que dura o dom que se recebe
na mente.

Grande ilusão
voltar pra aonde o tempo não vai mais estar...
Lilica, onde estará você?

Lilica... Onde estará?

(solo)

Chegou em casa e deu
o amor todo... Incondicional
Quis ser amada e amar
de um jeito
quase gente
quase deusa
quase animal.

Hoje a saudade tem
morada neste velho ser...
Hoje o silêncio diz
que o meu silêncio
é a pura voz
do não dizer...


A vida é sonho e diz
que fica o que se dá e se percebe...
Da vida, um sonho diz
que dura o dom que se recebe
na mente.

Grande ilusão
voltar pra aonde o tempo não vai mais estar...
Lilica, onde estará você?

Lilica... Onde estará?


O dom de amar por amar...


       (falado)
Como eu queria voltar (!)


No tempo...




(julho de 2017)

terça-feira, 18 de julho de 2017

VITÓRIA-RÉGIA

           

“Uma flor é uma flor,
uma rosa é uma rosa”
mas a vitória rosa
é régia.

Uma flor que um dia é branca
feminina flor
refletindo a luz do dia.
Masculina flor noturna
agora é rosa
como o fim da tarde
de uma longa espera.

Regendo o tempo,
o fluxo do rio...
 — Determina as cheias
ou a cheia lhe insemina?

Uma flor que me ensina
que o branco
contém o rosa
e todas as cores do dia.
Que a noite
contém o dia.

Uma flor que é menina
e menino brincando n’água.


                      


               
(Do livro Síntese de Poesia,
Paulo Robson de Souza, 2006)
 


___________________________

 


Com folhas circulares flutuantes que chegam a ultrapassar dois metros de diâmetro, a vitória-régia é a maior planta aquática do mundo. O nome científico, Victoria amazonica, é uma homenagem à rainha Vitória, da Inglaterra, e porque a planta é típica da Amazônia   embora ocorra também na porção norte do rio Paraguai, até o município de Corumbá, MS, onde a foto abaixo foi feita. 

Dependendo da região, os ribeirinhos a conhecem por aguapé-açu (do tupi, aguapé grande), forno-d'água e milho-d'água, porque produz sementes arredondadas, comestíveis,  ricas em amido que lembram  milho de pipoca; e cará-d'água, porque tem um rizoma 
comestível que lembra o cará (é quase do tamanho de uma bola de futebol e possui reservas nutritivas  que permitem à planta rebrotar após o período de seca).

Embora seja monoica, ou seja, possua os dois sexos no mesmo indivíduo, para evitar a autofecundação  as partes femininas localizadas na flor tornam-se férteis uma noite antes das masculinas; nesta fase inicial, feminina, as pétalas têm coloração branco-creme, e na noite seguinte, a fase masculina, as pétalas ficam róseas.  


A fecundação é um fenômeno muito curioso, do ponto de vista ecológico: ela é feita por um besouro amarelado (
Cyclocephala castanea) que, ao comer as partes florais, leva o pólen das partes masculinas de uma flor velha (foto) para as estruturas femininas da flor recém aberta, realizando a polinização. Mas quando ele visita a flor recém aberta (feminina), esta se fecha e o besouro fica aprisionado até o outro dia.

Embora aparente ser totalmente flutuante, a vitória-régia é fixa ao substrato:  suas gigantes folhas são, na verdade, sustentadas por um longo pecíolo cujo comprimento aumenta à medida que o nível da água sobe, uma adaptação à alternância de ciclos de cheia e seca. 

Saiba mais:

Plantas Aquáticas do Pantanal
, livro de Vali Joana Pott e Arnildo Pott (Embrapa, 2000) 

e artigo
Morfologia da flor, fruto e plântula de Victoria amazonica (Poepp.) J.C. Sowerby (Nymphaeaceae), de Rosa-Osman et al, 2011 (cliqu no link para acessá-lo).

MAL-ENTENDIDOS?





Urutu, cobra bendita
pela cruz que tem na testa.
De dia dorme, medita...
e de noite faz a festa.

Tendo um cruzeiro na testa,
ela é linda como a luz
desde que se fuja desta
como o diabo da cruz.

Urutu, cobra marcada,
é bonita de se ver
ou maldita, essa malhada,
se te bota pra correr!?

“Cabra” marcada,  se vê
detenta do nosso erro.
Traz a cruz do próprio enterro.
É marcada pra morrer.

Urutu, injustiçada
serpente, tão maculada...
linda de viver – é vida!
Linda de morrer. Decida.


                 Paulo Robson de Souza 
                 (O Livro das Cores e Formas, 2001, inédito)

__________________________


Adendo 01/4/2019:

O parceiro Raimundo Galvão musicou este poema. Clique na imagem para ouvir.




segunda-feira, 17 de julho de 2017

É E NÃO É



No Pantanal certas vidas
lembram coisas de comida.
Dá vontade de brincar,
as palavras cozinhar...

fazer uma sopa de nomes
um jogo do que “se come”,

exercitar a lembrança,
olhar a vida com a pança.


Pau-d’alho lembra tempero.
Salsaparrilha também?
Louro-preto: flores brancas
que temperam o ar... mazém?

A baía é uma sopa só:
no raso tem cebolinhas.
Tem lentilha, alface d’água,
batata d’água, salsinha...

E, bem longe do Urucum,
não achei sal na salina.
Suei, no Morro do Azeite,
pra fritar minha corvina!

São plantas que dão “comida”:
pata-de-vaca, faveiro,
assa-peixe, canjiqueira,
farinha-seca, leiteiro.

Bichos com nome gostoso:
palmito, peixe-banana,
tem também a rã-pimenta
e o araçari-banana.

A pimenta-de-macaco
tem, no fruto, pó-de-mico?
E a linda rã-pimenta,
canta os versos que fabrico?

E assim, nessa brincadeira
do que é do mato e da feira,

reconstruindo o poema,
tendo os seres como tema,

acrescente novos nomes
de tudo que não se come
mas entra no cozinhar...


para o jogo continuar...


               Paulo Robson de Souza
               2001, O Livro dos Jogos (inédito)

domingo, 25 de junho de 2017

LIBERTAS QUÆ SERA TAMEM



                   Felicidade:
                   liberdade
                   de ir, estatelar-se, vir,
                   falar, olhar e sentir.
                   Abraçar sem culpa
                   ouvir o coração alheio
                   (às vezes, o próprio!)
                   sem medo,
                   cheirar e sentir
                   o calor e o pulsar
                   da vida neste abraço.

                   
                   Libertas quae sera tamem:
                   na hora que quiser, no dia que quiser,
                   colher uma rosa-chá
                   e tomar chá
                   de colher...


Paulo Robson de Souza
10.8.2014 (adaptado de prosa do autor)


quinta-feira, 1 de junho de 2017

VINHO VERDE




Não é do verde da uva
Ou dos campos de folhas púberes
Esse nome que uns pensam cor.

Vinho pouco adormecido
Nos tonéis que  lhe emprestam um pouco
Do espírito das árvores.

Vinho moço
Sem muitas histórias
Mas com a alegria de criança.
Vinho verde.


                          Paulo Robson de Souza, 1999


sábado, 20 de maio de 2017

MANHÃ INDECISA


Sol e nuvens brincam de esconder e, sem querer, me revelam uma lembrança perdida, um poema da Cecília que ouvi tantas vezes na minha infância, na voz doce da professora carinhosa cujo rosto se apagou da minha memória... Ou Isto ou Aquilo, é o nome.
Da rede do quarto, a vista emoldurada pela janela está mais pobre: as mangas-rosas da vizinha já se foram, carcomidas pelos fungos e bactérias e pelo desprezo de quem não soube lhes dar valor. Esta visão apetitosa que me acorda desde dezembro, agora, só ano que vem, se o tempo parar de nos pregar peças, nesses tempos pré-apocalipse. Nuvens mudam de tom e perambulam, agoniadas pelo peso do líquido que começa a brotar da equação calor e pressão atmosférica.
Sábado branco, logo depois multicor; o tempo fecha de novo, e de novo se abre... Não sei se deito, ou se volto a dormir. Ou  mais eufemismo impossível , apenas dou um descansadinha nos olhos, como diria a minha vó Dila quando pega cochilando na cadeira de balanço.


PRS - 15.2.2014

CORAGEM!



― Paaaaaaaaaaaaaaiiiiiii! Venha aquiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
Corri para o quarto, pensado que fosse um daqueles ratos que vez em quando aparecem no quintal, ou um carrapato do Morfeu, cão que encontrei na rua há três dias, mais infestado de parasitas que toca de onça magra.
Encontrei minha filha aos prantos, com o computador aberto. Acabou de saber que fora chamada para assumir uma vaga em serviço público federal em Ponta Porã, cidade localizada a 500 km de onde moramos, Campo Grande. Primeiro lugar em concurso muito disputado, vai exercer a profissão sem qualquer experiência, tocar sua vida de modo independente, sonho de todo jovem recém-formado.
Disse-lhe palavras reconfortantes, falei da dádiva que recebeu, que é preciso encarar com alegria novos desafios, etcœtera et al, como diria meu falecido tio João Ribeiro, pedreiro sábio, viajado e que falava bonito (na minha infância ele adorava encerrar as frases como o que eu entendia como “e tal”). Depois de dar todo tipo de conforto se espera de um pai, saí com esta:
― Coragem minha filha! Você é filha de Paulo Robson de Souza, sujeito destemido... (pausa)... que não tem medo de ratos, mosquitos e carrapatos. Ela riu. E saiu para encarar o dia de frente.


Paulo Robson de Souza
18.2.14

NA CIDADE DE PELOTAS


Em Pelotas o prumo é diferente. A sombra é diferente. Como disse minha mãe aqui certa vez, Dona Santinha, há algo no ar que não se explica, mas que nos dá a sensação de estarmos no estrangeiro.
O sol aqui se põe mais tarde, muito mais tarde. Jantar de dia é algo peculiar.
A umidade é tanta que jardins florescem sobre as telhas antigas. E pequenas bromélias crescem em fios de alta tensão.
Há jardins bonitos em frente a casas sem cercas, ruas com calçamento antigo, sobrados seculares com parapeitos de ferro inglês, e a planura do terreno é um convite às caminhadas. Desde que não se mire os doces que se cristalizam em cada esquina, pode-se até sonhar em emagrecer sem esforço.


PRS - 24.2.14

DO ARCO DO PLEISTOCENO



Desde ontem não para de chover nesta cidade de Pelotas, úmida por definição. Chuva fina, dengosa, ornada de pássaros cantantes... Enfim, daquelas que brotam do bocejo de Morfeu.

Um paradoxo, em meio a tanta nebulosidade e umidade relativa saindo pelo ladrão da coluna de ar que pressiona meu corpo, eu aqui mais seco que charque em embornal de cangaceiro.  Meus olhos parecem seixos, minha cara é uma preá moqueada, boca tomada de farinha... Aiaiaia, esta tese que teima em me desidratar até a alma, me afogando em caatinguices...  


PRS
Pelotas, 26.2.14

UM CAÇUÁ DE FOTOS



Tenho um outro caçuá de lembranças perdidas. Fotos, milhares de fotos feitas na pressa do fim do raiar do dia e da meia noite, tempo morrendo no contar do meu desespero. Coisas de ansiedade, produzir mais que a capacidade de organizar, classificar, rever... Para um biólogo, amostra e foto sem etiqueta é material perdido, a depender da finalidade. Fotos de formigas em ninho feito em ramo morto então, são um arrepio, de tão parecidas, incodificáveis.  A sorte é que, para algumas sessões, tive o cuidado de fotografar um bilhetinho ao lado, arremedo de ficha.

PRS
2.3.2014

ANIVERSÁRIO DE BETH



Hoje minha amada atingiu uma importante marca da maturidade, mas com corpinho de 30, disposição de 20, alegria de 15; vontade de viver, de ajudar e de ser feliz (ajudando): a cara de todas as idades saudáveis. A cara de Beth.

Bom demais, termos compartilhado quase metade desses consideráveis anos vividos! A promessa “na alegria e na tristeza” vivida na prática, e não na vazia superficialidade da palavra recitada por padre que nunca nos fez prometer, pois sequer nos viu diante dos seus rituais (pois não foi preciso). Uma vida a dois sem perdermos nossa individualidade. Na alegria e na tristeza. Na dureza da rocha e na poesia da flor. Que começa com a passagem do cometa Halley...

PRS
6.3.2014

ATEMPORAL, MEU MAL




― Lucimara aqui é o Paulo Robson como vai você tem um tempinho para me atender estou no Sul não estou conseguindo sacar dinheiro o cartão está bloqueado ― falei assim de supetão, vício do tempo da ficha telefônica, em que um ponto de interrogação determinava ou não a interrupção da conversa (não pela interrogação em si, mas pela resposta que se sucederia à pergunta).

― Professor, o senhor terá de esperar o banco abrir, na segunda... ― falou-me ao celular uma voz doce e calma de gerente atenciosa, jeito de quem acabara de acordar e não acreditava no que estava ouvindo. Pego de surpresa pela impropriedade da ligação, devolvi a gentileza com uma saraivada de mil perdões ai que vergonha meu deus sou perdido no tempo jura que hoje não é sexta-feira desculpe desculpe desculpe ai que vergonha bom final de semana pra você e sua família. E desliguei rapidinho (a ficha caiu).


Paulo Robson de Souza
01.3.14

terça-feira, 16 de maio de 2017

PRÉ-TEXTOS VIII (BOCA SECA DE ASCO)



Acordei com a boca seca de asco, olhos inchados de pesadelos e uma ausência de temeridades em todos os poros. Hoje não estou nem para mim.

*  *  *

        Há um bentevi
        no meu quintal
        que todo dia me chama.
        Parece que clama
        por uma tigela d’água.
        Qual de nós terá maior sede?

*  *  *

        Afinal não entendo
        Qual a do passarinho
        Que alimento,
        Dou todo dia um pote de água fresquinha
        Mas que não me nutre
        Com um ninho.

*  *  *

Borboletas transgridem o vento.

*  *  *

Borboletas tingem as flores de escamas coloridas.

*  *  *

Cerquei-me de mentiras, mergulhei nas intrigas em revista neste meu modorrento sofá. Notícias escorrem por entre meus dedos, tão pesadas estão. Sim, hoje é domingo. Quisera ter um pé-de-cachimbo.

Paulo Robson de Souza
27/02/2005

Da série Poesia Todo Dia!

PRÉ-TEXTOS VII (SOBRE A INTUIÇÃO)




Tinha cochilado no finzinho de tarde e minha filha me achou “com cara de bravo”. Algo muito estranho, ter pesadelos durante um cochilo. Agora só me resta dormir.

*  *  *

Há algum tempo li um desses artigos acadêmicos. Argumentava sobre a tendência que os pesquisadores têm, à medida envelhecem, de substituir parte do pensamento científico por atos mais relacionados à intuição.  Penso ― penso? ― que neurônios envelhecidos tendem a desacreditar o sentido racional que certas coisas nos oferecem, passam a duvidar das certezas e a se cansar das interrogações. Em outras palavras, a senilidade torna dois sacos cheios: o próprio, e algum tipo de “saco mental”, aquela região cerebral que costuma mandar o mundo às favas toda vez que um idiota, um pretenso inteligente ou o pior tipo de gente, o arrogante, abre a boca inoportunamente.
Minha intuição me diz que hoje não devo sair de casa.


Paulo Robson de Souza
28/02/2005

Da série Poesia Todo Dia!