sábado, 20 de maio de 2017

CORAGEM!



― Paaaaaaaaaaaaaaiiiiiii! Venha aquiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
Corri para o quarto, pensado que fosse um daqueles ratos que vez em quando aparecem no quintal, ou um carrapato do Morfeu, cão que encontrei na rua há três dias, mais infestado de parasitas que toca de onça magra.
Encontrei minha filha aos prantos, com o computador aberto. Acabou de saber que fora chamada para assumir uma vaga em serviço público federal em Ponta Porã, cidade localizada a 500 km de onde moramos, Campo Grande. Primeiro lugar em concurso muito disputado, vai exercer a profissão sem qualquer experiência, tocar sua vida de modo independente, sonho de todo jovem recém-formado.
Disse-lhe palavras reconfortantes, falei da dádiva que recebeu, que é preciso encarar com alegria novos desafios, etcœtera et al, como diria meu falecido tio João Ribeiro, pedreiro sábio, viajado e que falava bonito (na minha infância ele adorava encerrar as frases como o que eu entendia como “e tal”). Depois de dar todo tipo de conforto se espera de um pai, saí com esta:
― Coragem minha filha! Você é filha de Paulo Robson de Souza, sujeito destemido... (pausa)... que não tem medo de ratos, mosquitos e carrapatos. Ela riu. E saiu para encarar o dia de frente.


Paulo Robson de Souza
18.2.14

2 comentários:

  1. Coragem e aperto no coração.... coisa de pai.... Lindo!

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  2. Grato Maju, poeta querida! Grande abraço deste pai abestalhado, rsrsrs.

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